Bons ventos do Oeste

30/04/2011 23:48

 Bons ventos do Oeste

Publicado em 11 de abril de 2010 

Conceição Tabosa (no centro) coordena o Grupo de Artesãs em Paracuru, composto de 26 mulheres, dentre elas, Raimunda Oliveira, 43 anos, Benedita Marques, 44, Eliana Martins, 52, e Tatiana Costa, 33

Temas do cotidiano das artesãs , a exemplo de jangadas, peixes e flores, são retratados por meio dos bordados.

Tudo na vida de Conceição Maria Rodrigues Tabosa, 39 anos, aconteceu de forma precoce. Aos 12 anos já bordava para ajudar a mãe, em São Gonçalo do Amarante, sua terra natal. Aos 16, teve a primeira filha,Gabrielly, sem planejar. Após cinco meses de namoro, assumiu um novo relacionamento do qual vieram mais dois filhos. Em janeiro de 2009, ficou viúva, aos 39 anos. Por ter sido o grande incentivador do seu trabalho, ao lembrar do companheiro Rafael, Conceição se emociona e chora.

Quando retoma a conversa, ela descreve com detalhes como o artesanato passou a fazer parte de sua vida. Lembra que, com a filha pequena e desempregada, na época, recebeu a proposta de uma cliente, enquanto vendia seus bordados na Avenida Beira-Mar, em Fortaleza. Aceitou, mas teve que viajar para o Rio de Janeiro, onde organizaria um estande numa feira de artesanato.

Sem nunca ter saído do Ceará, deixou a filha com os pais e embarcou no ônibus rumo à Cidade Maravilhosa. Quase um ano depois, Conceição recebeu o telefonema da família dizendo que Gabrielly estava precisando de cuidados especiais. A mãe não teve dúvida, retornou para o Ceará. Na rodoviária de Fortaleza, esperou pelo noivo, que havia deixado há quase um ano, mas ele nunca apareceu.

Para iniciar o tratamento de saúde da filha, Conceição foi morar de favor na casa da irmã em Fortaleza. Em 1994, conheceu Rafael, "homem dinâmico e trabalhador", define. No ano seguinte, ficou grávida. Quatro anos depois, o casal teve mais um filho. Durante um tempo, ela trabalhou ao lado do marido, numa ONG em Fortaleza. Até que, em 2002, o casal teve a ideia da associação de bordadeiras em Paracuru, da qual Conceição é a presidente.

Fragmentos

Na passarela

Tudo começou em 2002, com a ideia de criação do Grupo de Artesãs e Costureiras de Paracuru (Gcap), formado por 26 mulheres, tendo como referência o bordado à mão. A primeira conquista foi o espaço, uma casa alugada sem nada dentro. Para iniciar, Conceição emprestou duas máquinas de costura.

Sem dinheiro, mas cheias de sonhos, realizaram o primeiro desfile, em 2003, na rua da entidade. As modelos eram filhas das associadas. No ano seguinte, veio o de moda praia apresentado na praça principal.

Em 2005, um desafio: produzir 672 peças para a Paixão de Cristo, tradicional na cidade. Depois, fizeram o primeiro curso com a bordadeira Marta

Dumont, o qual motivou o convite para o projeto "Bordando o Brasil", em 2005. Por meio de outro curso, pelo Sebrae, as artesãs criaram coleção com o estilista Mark Greiner. Os looks foram apresentados no

Dragão Fashion Brasil 2007. Ao final, integrantes do Gcap desfilaram ao lado de Greiner, no Mausoléu Castello Branco, em Fortaleza.

Encontro regado a café e biscoitos


Uma especialidade de dona Bila é o hardanger. A técnica entra na categoria dos bordados de crivo e usa seis tipos de pontos, como blocos de ponto cetim, caseado e barras tecidas ou enroladas

Basta dizer o nome para descobrir o endereço de dona Bila, no pequeno município de Araripe, no Cariri. Logo na entrada da cidade, pedimos uma informação, depois mais duas, e todos sabiam de quem se tratava. Maria Teixeira, a Bila, 62 anos, pernambucana de Exu, terra do rei do baião - Luiz Gonzaga, é conhecida tanto por seus bordados quanto por sua amizade.

Quando chegamos à casa, de surpresa, dona Bila estava num dos quartos, sentada na cadeira de balanço, envolvida com seus bordados. Desconfiada, custou a entender o motivo da nossa presença. Inicialmente, disse que não tinha nenhum trabalho pronto, mas, devagarzinho, foi abrindo a "guarda". Começou a falar do artesanato e de sua vida. A cara fechada em pouco tempo abria um sorriso e servia um delicioso café com biscoitos.

Em Araripe, há 48 anos, Bila se casou e teve sete filhos. Sempre trabalhou na roça, mas também aprendeu a bordar, costurar, pintar, fazer macramé e crochê. Sua especialidade é o hardanger, técnica de bordado cujo desafio é cortar os fios corretamente. Apresenta ainda enchimentos rendilhados e aparência geométrica.

A disposição para o artesanato está evidenciada na sua personalidade. "Eu me criei sem luxo nenhum, mas gosto e tenho um vício. Vou ao Crato e a Juazeiro do Norte só para comprar tecido e linha", revela.

Ao lado do marido, trabalhou durante anos na roça, e só em 1987 passou a se dedicar ao artesanato. Com a separação, Bila teve que se desdobrar para dar conta de tudo e de todos. Dois filhos já tinham se mudado para São Paulo quando, em 1993, devido à seca que terminou com a sua plantação, ela decidiu mudar o rumo da vida. "Arranquei a máquina de costura do móvel e rapei para São Paulo, levando dois filhos menores", recorda. Lá, passou alguns meses, tempo suficiente para bordar e ganhar uns trocados.

Com os filhos criados, todos independentes, e mais 16 netos, Bila diz que muitas vezes precisou ser macho e fêmea ao mesmo tempo. Por isso, quer ficar mais quieta em seu canto, poder viajar quando deseja e fazer os bordados na hora em que bem entende. Aposentada, acorda às seis da manhã, liga o rádio ou televisão para ouvir as notícias e pronto. Isso é o suficiente para deixá-la feliz.

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